Sunday, June 15, 2008

Críticas à Espanha



Após vários meses de silêncio, vou atualizar este blog com uma crítica a uma nação.

E essa nação é a Espanha.

Para o leitor mais afoito, ou politicamente correto, ou que simplesmente não gosta do que eu escrevo (ou de mim, não que eu me importe com isso), sugiro uma leitura imparcial do texto em sua integridade. Quem sabe isso poderá mudar a sua opinião.

Caso contrário, recomendo abandonar a leitura à partir daqui. Acredite: é um favor que estará prestando a si mesmo.

Antes de tudo, gostaria de esclarecer que eu mesmo sou descendente de espanhóis por parte de meu avô paterno (e definitivamente me orgulho disso!), que reconheço a contribuição dos imigrantes ibéricos na colonização de meu estado de nascimento (São Paulo) bem como sua cota de mérito na consolidação do Brasil como a nação que nós conhecemos hoje em dia. Isso sem falar nas contribuições dos espanhóis para a ciência, a cultura, a arquitetura e as artes de uma maneira geral.

Em tempo: tudo que será lido abaixo é apenas a exposição de minha opinião pessoal. Não há, em momento algum, qualquer intenção de se ofender a Espanha como nação, tampouco seus cidadões. Mas trata-se de uma crítica e a crítica, por definição, pode não agradar uns e outros.

Recentemente a imprensa divulgou, em suas diversas mídias, incidentes de brasileiros sendo deportados da Espanha ainda no aeroporto internacional de Barajas*, em Madri, sem qualquer justificativa palpável para tal. Grupos de brasileiros honestos e decentes, alguns universitários em visita ao país para irem a congressos, trancafiados por dias em salas vigiadas por guardas, sem acesso a telefone ou banheiro, aguardando um posicionamento das autoridades locais e sendo vítimas de abusos verbais de toda ordem por parte dos agentes de imigração.

Os abusos verbais divulgados me chamaram bastante a atenção. Os homens eram chamados de "porcos traficantes". As mulheres de "prostitutas". O teor das ofensas revela, além de uma clara válvula de escape para a frustração pessoal desses agentes, um teor de xenofobia incongruente com a índole dos povos latinos de uma maneira geral.

Não vou ser presunçoso (ou ingênuo, dependendo do ponto de vista adotado) ao ponto de alegar que todo brasileiro é de caráter reto e inabalável, e que não existem brasileiros indo a Europa justamente com o objetivo de praticar esses atos ilícitos voiciferados pelos tais agentes da imigração. Isso de fato, infelizmente, acontece.

Só que o buraco é mais embaixo. Eu diria beeemmm mais embaixo.

Primeiro, vamos analizar pela lógica nua e crua: se não houvesse cidadões espanhóis consumidores de drogas e de prostituição, certamente não haveria interesse de criminosos (de qualquer nação) em se inserir e operar no país. É a famosa lei da oferta e da procura. Então, as acusações desses agentes de imigração estão mais para o sujo falando do mal lavado, do que o senso de dever cívico de proteger a sua pátria propriamente dito.

Segundo: os brasileiros foram detidos e extraditados sem acusação formal. Pior: sem quaisquer tipo de prova que justificassem o ato. Para um país cujas leis incluem o julgamento de "crimes contra a humanidade", tanto os políticos como os de guerra, mesmo os não praticados em terras espanholas (vide os louváveis esforços espanhóis em julgar o general Pinochet), os abusos cometidos no aeroporto de Barajas são um incidente vergonhoso, para se dizer o mínimo.

Sabe-se que a Espanha em particular, e a Europa de uma maneira geral, estão atualmente sofrendo um problema sério com a imigração ilegal. Mas daí usar turistas brasileiros como bodes espiatórios da situação extrapola todos os limites do bom-senso. E das boas relações internacionais.

Mas minhas críticas não se restringem somente ao episódio da extradição injustificada de brasileiros. Também quero apontar a emergente arrogância da Espanha no cenário mundial. Se a mesma é fruto ou não do tradicional e milenar orgulho latino, ainda não consegui descobrir.

Mas vamos lá:

Ano passado quando estive na Ilha da Madeira, fiquei sabendo, para meu espanto e desgosto, que a Espanha periódicamente envia navios de guerra para os arredores do arquipélago, pois eles reinvindicam, com base em fatos históricos um tanto que obscuros, que duas ilhas do arquipélado da Madeira, as ilhas Selvagem e Deserta, respectivamente, pertenceriam a Espanha. Portugal, então, é obrigado a mobilizar vasos de guerra para a região para re-atestar sua jurisdição sobre as duas pequenas ilhas com a mesma periodicidade.

Além de ridículo, é um ato que só faz ferir e enfraquecer a relação milenar das duas nações ibéricas, cujas histórias se mesclam no passado ao ponto de não se distinguir uma da outra, dependendo do período histórico considerado. E, estratégicamente falando, é um tiro no próprio pé, pois mesmo que a Espanha eventualmente tomasse as duas pequenas ilhas, tal ato iria ser automáticamente repudiado pela comunidade internacional, incluindo a União Européia (UE) da qual Espanha e Portugal fazem parte. O máximo que iria acontecer seria a ONU, a OTAN, ou a própria UE obrigarem a Espanha a devolverem as ilhas a Portugal.

E eu me pergunto: tudo isso pra quê? Só pode ser para a Espanha exibir suas forças armadas, porque até onde sei ainda existe muita terra nos territórios espanhóis para seus cidadões viverem, além do que as duas pequenas ilhas são inóspitas e só têm valor como reservas naturais e arqueológicas.

Outra coisa que não me entra na cabeça foi a Espanha ter enviado tropas ao Iraque. Logo a Espanha que, como citei acima, uma nação julgadora de crimes contra a humanidade? É um paradoxo.

A pergunta que não quer calar é: será que as forças armadas espanholas são assim tão boas? O que há de tão especial ao ponto de se mandar tropas para baterem ponto no Iraque, ao lado das forças militares mais capacitadas e poderosas do planeta (EUA e Inglaterra)? A presença espanhola no Iraque era assim tão essencial e inprescindível? Falando nisso, qual motivo Espanha teve para se juntar ao conflito?

E agora voltando ao problema no arquipélado da Madeira: será mesmo que a marinha espanhola é assim tão superior a marinha portuguesa?

Sinceramente? Tenho cá as minhas dúvidas.

Afinal, uma nação querer se projetar no cenário mundial, seja mandando forças armadas para confrontos desnecessários ou extraditando turistas vindos da América do Sul, sendo custeada pelo dinheiro da UE, é fácil.

Uma verdadeira provocação de um país que no passado, antes do tempo das vacas gordas da UE, pediu 13 vezes moratória** ao FMI para sua dívida externa.

Nós no Brasil, pelo menos, nunca pedimos.

E quem paga nossas contas, quem financia nossas forças armadas, nossa infraestrutura e, por que não dizer?, nossos aeroportos, somos nós mesmos.

Hasta la vista.

Plei

* um belo e moderno aeroporto. Até metrô conectando seus terminais tem. Tudo financiado com os Euros da UE.

** moratória = ato unilateral de um estado declarando a suspensão do pagamento dos serviços da sua dívida externa.